O cenário completo a três dias das eleições americanas
Disputas em condados-chave e a possibilidade de empate em uma das eleições mais acirradas de todos os tempos e que pode entrar ainda mais para a história.

Em menos de 72 horas o mundo acompanhará de perto a apuração das eleições americanas. De um lado, a atual vice-presidente, Kamala Harris (D), que busca se tornar a primeira mulher a liderar os Estados Unidos. Do outro, Donald Trump (R), que tem como objetivo ser o segundo ex-presidente na história do país a reassumir o cargo.
O tabuleiro está bem desenhado. Ambos os candidatos buscam a vitória em sete estados cruciais no caminho para a Casa Branca. São eles: Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia, Arizona e Nevada. Todos os outros 43 estados americanos têm um vencedor virtualmente definido, o que totaliza hoje, três dias antes do pleito oficial, 226 votos do colégio eleitoral para Kamala Harris (D) e 219 votos para Donald Trump (R).
Logo de cara, observa-se que a candidata do Partido Democrata possui uma vantagem sobre Donald Trump. Kamala Harris só precisa repetir o feito de Joe Biden em 2020, quando o atual presidente venceu a chamada “Blue Wall”, a muralha democrata dos estados do topo da região de Great Lakes (Wisconsin, Michigan e Pensilvânia), para chegar ao número mágico de 270 votos do colégio eleitoral e vencer a eleição presidencial.

Enquanto o caminho mais fácil de Kamala Harris é baseado na parte mais ao norte do país, o candidato do Partido Republicano busca a garantia da costa leste para desbancá-la. Donald Trump tem como caminho mais fácil a vitória em estados que já venceu em 2016 e 2020. Garantir os estados de Carolina do Norte (vencido em 2016 e 2020), Geórgia (vencido em 2016) e Pensilvânia (vencido em 2016) levaria Trump novamente à Casa Branca.

Levando em consideração os números do chamado “consenso da mídia”, isto é, de que no cenário de hoje, 2 de novembro de 2024, Kamala Harris possui 226 votos do colégio eleitoral e Donald Trump 219, os Democratas possuem 20 combinações possíveis para vencer a eleição, enquanto os Republicanos têm 21.
Existem, no entanto, três cenários de empate partindo do pressuposto “226 a 219”. Estes três cenários são extremamente improváveis e não são levados em consideração pela mídia americana. Porém, existe uma possibilidade de empate que é analisada e discutida entre especialistas e as próprias campanhas, e que envolve um distrito específico do estado de Nebraska.
Para entender essa possibilidade é preciso saber como os votos do colégio eleitoral são distribuídos nos estados de Maine e Nebraska. Nos outros 48 estados, o vencedor do voto popular fica com todos os votos do colégio eleitoral daquele respectivo estado. Já nos dois restantes, é feita a divisão por distrito congressional. Esse termo refere-se a uma divisão geográfica dentro de um estado, usada para eleger representantes na Câmara dos Deputados e que também influencia o colégio eleitoral. Portanto, Maine e Nebraska alocam dois votos do colégio eleitoral para o vencedor do voto popular e um voto do colégio eleitoral para o vencedor de cada distrito congressional.
Esse conceito é importante para entender o cenário mais provável de empate, que diz respeito ao 2º distrito congressional de Nebraska. Em 2020, Joe Biden venceu o distrito por 6,5% dos votos. Mas, em 2016, Donald Trump venceu no mesmo lugar por 2,2%. Na Câmara dos Deputados dos EUA, o distrito é representado por Don Bacon, republicano, e em 2022, na eleição para Governador do estado de Nebraska, Jim Pillen, também republicano, venceu por 0,1% dos votos e posteriormente venceu a eleição.
Levando em conta que esse distrito seguiria a lógica dos votos republicanos, entraria para a coluna de conquistas de Donald Trump, equilibrando o mapa do “consenso da mídia” em 225 para Harris e 220 para Trump.
É aí que o cenário de empate mais provável entra em ação. Caso Kamala Harris confirme a Blue Wall, a candidata chegaria a 269 votos do colégio eleitoral, mesmo número de Donald Trump ao confirmar os estados da Carolina do Norte, Geórgia, Arizona e Nevada, onde o ex-presidente teria mais facilidade.

É importante ressaltar que apesar de ser o cenário mais provável de empate, a possibilidade de ocorrer é pequena, tendo em vista que as pesquisas realizadas especificamente no distrito sinalizam uma vitória de Kamala Harris.
E no olhar específico para os distritos, alguns são cruciais na hora da contagem dos votos, e podem ajudar na estimativa de um candidato vencedor até antes das previsões oficiais.
Em Geórgia, um dos estados indefinidos e mais disputados dessa eleição, será importante observar se a região da capital Atlanta se mantém Democrata. O condado mais assistido será Fayette County, onde Trump junto aos Republicanos venceu por quase 5 mil votos em 2020, uma margem que vem caindo ao longo das eleições (12 mil em 2016 e 18 mil em 2012). Ainda em 2020, foram nove condados na região que ajudaram Biden a vencer o estado, qualquer mudança, aumentando ou diminuindo o número de distritos azuis na região, pode indicar um vencedor dos 16 votos relativamente cedo na noite do dia 5 de novembro.

Outro estado com batalhas importantes condado por condado será Carolina do Norte, onde a margem de vitória Republicana também entra em tendência de queda. Union County, vencido por Trump em 2016 por 30% dos votos, foi conquistado por 24% em 2020 e apresenta margens pequenas em pesquisas para a eleição de terça-feira, principalmente pela proximidade a Charlotte, local onde os Democratas tem facilidade para vencer.

Na Pensilvânia, estado onde o vencedor tende a ter facilidade para levar a eleição, o condado de Lackawanna County é um dos que mais chama a atenção. Historicamente Democrata, sofreu com queda na porcentagem de vitória para o partido azul. Em 2012, com Obama, 26 mil votos separavam os candidatos. Já em 2016 a diferença foi de 3 mil. Em 2020, voltou a ter bons números, com diferença de 10 mil votos, mas muito por conta da história de Biden, nascido em Scranton, localizada dentro do condado.

A corrida presidencial deve ser decidida por uma margem mínima, com o(a) vencedor(a) provavelmente anunciado(a) apenas na manhã ou tarde de quarta-feira, 6 de novembro. De qualquer forma, a eleição estará longe de acabar, considerando os acontecimentos de 2020 e novas leis em estados-chave, que podem exigir métodos de recontagem dos votos.